quinta-feira, 2 de junho de 2011

SISTEMA



*Joel Pires

O sistema está fora do ar:
Nova ordem mundial
Nova ordem geográfica
Nova ordem política
Nova ordem financeira
Nova ordem espiritual.

A telefonista está fora do ar:
Banco sem transação
Contas sem compensação
Negócios em suspensão
E o sistema é suspeição,
Fora de operação.

Sistema mundial, sistema planetário, sistema global.

Rádio, jornal, televisão:
Informação.
Livro, revista, manuscrito:
Multi-infoculturalização.

Subsistema, microssistema, suprassistema

Sistema límbico
Sistema nervoso
Sistema central.

O sistema está fora do ar.

Sistema econômico:
Cifras, multicifras, especulação.

O que é o sistema?
Uma desculpa, uma explicação.
Ou antissistema: uma abstração.
A entidade, instituição:
Sistema fora de operação.

Furo, erro, falha:
Sistema em desabilitação.

Novo sistema lingüístico:
Falante-ouvinte em comunicação.
Verbo e gesto, decodificação.
Silêncio e expressão.

Erro é mera distração.

A origem é o sistema.
A culpa é do sistema:
O sistema da exclusão.

Núcleo, centro, síntese: Sistema Solar.
Apagão, colapso, fora do ar.
As órbitas do sistema:
O alcance, o espectro, a difusão.

Barras, códigos, senhas:
Sistema numérico. Identificação.
Fraude, dolo, dano: Infiltração.

Sistema carcerário:
Controle, cerco, prisão.

Pânico, fobia, medo
Pressão, sangue, circulação.

Bomba, válvula, miocárdio: Coração.

O antissistema: caos, desintegração.

Universo sistêmico. Indivíduo, marca, registro:
WWW.HUMANO.COM ?

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Casamento Real

Por que os olhos do mundo se voltaram para a Inglaterra nessa manhã de sexta-feira? Que importância isso tem como fenômeno da nova sociedade midiática e imagética?
Ainda há quem sonhe com castelos e príncipes. O “glamour” movimenta o alto clero das relações sociais e atrai as atenções; não pelo conteúdo, mas pela superexposição das personalidades, cultuadas pelo baixo clero. O evento tem lá sua importância histórica e precisa ser registrado; contudo, transformar o acontecimento da realeza britânica em espetáculo mundial é uma bizarrice do novo panorama sociocultural.
Todavia, o que torna esse evento algo singular é a transmissão em tempo real, reunindo todos em torno de um fato ocorrido num ponto do globo. O sociólogo canadense Marshall McLuhan utilizou o termo “aldeia global” para se referir ao encurtamento das distâncias provocado pelas novas tecnologias. Os críticos asseveram que a analogia não é pertinente, pois numa aldeia os vizinhos se falam, diferentemente do que ocorre na sociedade atual: conversamos com alguém no Japão, mas não conhecemos quem está ao nosso lado. Outro termo também utilizado por esse teórico dos meios de comunicação é a expressão “prótese técnica”. Nosso olhar muda, e nossas sensações também. E isso não é pouca coisa. Além da família e da escola, a mídia constitui uma instância educativa – ou deveria –, pois ocupa espaço, tempo e mentes.
A televisão, como meio de comunicação de massa, é um importante veículo na sociedade. Mas o filósofo McLuhan não viveu para presenciar a expansão extraordinária das outras mídias, tendo o computador como ferramenta fundamental. Hoje, as redes sociais, como facebook e twitter, voltaram-se para o Reino Unido. A que papéis se prestam os meios de comunicação? É o que nos alerta Emir Sader, sociólogo e cientista político brasileiro. A manipulação aparece o tempo todo sob novas estratégias midiáticas. É preciso vender imagens, objetos, idéias e sonhos! O que está acontecendo no mundo “real” e que é suplantado pelo domínio tecnológico e capitalista?
Aqui, em Sobradinho, o espetáculo foi o amanhecer. O show de pássaros, luzes e cores, que se repete todos os dias. Essa é a magia cotidiana que está à disposição de todos que se permitem à fruição do belo. De madrugada, a aurora anunciava um novo dia no céu desenhado de azul, com a lua e uma estrela ainda a brilhar no firmamento!

Google images.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

BRASÍLIA: SÍMBOLO DE MODERNIDADE



*Joel Pires

A cidade dos sonhos de Dom Bosco surgiu imponente, ampla, moderna. No Planalto Central, erigiu-se poesia em forma de concreto armado: a graciosidade dos traços em monumentos recém-construídos. Os espectadores do nascimento profético observam os edifícios majestosos. Juscelino sorri orgulhoso de seu feito... de seu projeto político, econômico e humano.

No princípio era o pó, o cerrado, o chão. Os edifícios elevaram-se, as avenidas se estenderam, as águas contornaram os monumentos. Nasce Brasília, a audaciosa invenção. Lúcio Costa, Niemeyer, Burle Marx, Athos Bulcão, parceiros de uma obra universal. A geografia circunscreve seu novo território. A história registra seu mais recente capítulo. A ciência arquiteta seu fabuloso engenho.

Vejo tudo à distância: o cenário, o horizonte redesenhado, a paisagem recriada. A arte flertou com a ciência e deu à luz Brasília, o poema-cidade. Ergueram-se catedrais, ministérios e palácios. Espalharam-se jardins, praças e viadutos. Inauguraram-se símbolos. Os edifícios não apenas abrigarão pessoas, serão cartões postais, pintura em alto relevo sob o azul-nuance-de-sonho, celestial.

terça-feira, 19 de abril de 2011

PROGRESSO E EXCLUSÃO


* Joel Pires

Copérnico inaugurou a modernidade. Esse cientista, autor da teoria do Heliocentrismo, rompeu com a tradição milenar da cosmologia aristotélica. A Terra não é mais o centro do universo. E agora? Como o homem se situa? O que fazer com nossa vaidade? Aonde nos leva a presunção? Que caminhos a humanidade percorre? O progresso tecnológico e científico é um atalho seguro? O que nos reserva o futuro? Nossos olhos já se abriram? E, se sim, o que nos ilumina?

Indagações, questionamentos: a dúvida pode ser a resposta para as questões da atualidade. Um leque de opções se abre à nossa frente. Liberdade é o que nos apresenta. Escolhemos a todo instante o rumo a seguir e nem nos damos conta da importância desse processo. O poder está em nossas mãos, mas é necessário exercitá-lo. A democracia é o instrumento que nos garante a decisão. Assim, a capacidade de escolha é nossa conquista e responsabilidade.

Carta, telégrafo, telefone, televisão, computador, fumaça. O papel, a máquina e o fogo estão à disposição de todos. Fogo simbólico, é bom esclarecer. Metaforicamente, a fumaça chama a atenção. O mundo tem acesso aos meios de comunicação. No entanto, não é raro o isolamento e a segregação. Temos espaço e voz. Entretanto, às vezes nos calamos. O silêncio também comunica. Calar-se pode ser a resposta diante do inexplicável, da tragédia, do desatino. Todavia, a injustiça se prolifera diante da resignação. A manifestação é nossa obrigação, e não apenas escolha. É preciso conhecer, conversar, agir. O esclarecimento é fundamental.

Apesar de todo o progresso que vivemos, ainda se morre de sede, de fome e de dengue. Virar uma tampa e impedir o acúmulo de água é uma ação tão importante quanto uma descoberta científica. Evitar uma morte é tão valioso quanto formar um doutor. Mas há doutores se negando a salvar vidas! Uma consulta médica, dependendo da especialidade, pode ultrapassar trezentos reais por alguns minutos de atendimento. E se o especialista for renomado, haja cifra! Sobrevive quem pode pagar.

A ironia é que os melhores médicos estudaram em universidades públicas, custeadas por nós. Aquele que morre no corredor, esperando atendimento ou equipamento, pagou o profissional que seleciona sua clientela. Essa seleção não segue o critério da preservação da vida humana, mas se dá na lógica do lucro.

Que ciência é essa que se constrói com base na exclusão?

UnB: nem tudo é destruição










*Joel Pires

Apesar de ter sido destaque na imprensa o prejuízo da inundação no Instituto Central de Ciências da Universidade de Brasília, o campus universitário abriga prédios modernos e diversos projetos em construção. Nas redes sociais, infelizmente alguns desinformados se arvoraram em questionar a qualidade da instituição. Uma coisa é o prédio, físico; e outra é a competência docente, humana. O que faz da UnB uma das melhores do país é a tríade: ensino, pesquisa e extensão.


Esse projeto de expansão da universidade tem o objetivo de atender ao número crescente de alunos, graças à política de acesso ao ensino superior visando à equidade do processo seletivo. Uma parte da população permanecia à margem do ambiente acadêmico, mas agora muitos são contemplados porque o tradicional sistema de avaliação – ultrapassado – cedeu lugar a formas mais justas de ingresso.

Por Joel Pires (texto e fotos) Especial para o Jornal de Sobr

quarta-feira, 13 de abril de 2011

CIÊNCIA E CULTURA: AMAZÔNIA














*Joel Pires

Recentemente participei de um intercâmbio entre educadores brasileiros e norte-americanos. O encontro foi promovido por uma empresa de desenvolvimento de programas educacionais em parceria com a Universidade de Carolina do Norte . O projeto – SCI-LINK – visa à interação entre estudantes e professores em atividades culturais e científicas. “O SCI-LINK é, antes de tudo, um projeto que liga cientistas, professores e estudantes, com o objetivo de transformar conhecimento científico e experiência internacional em práticas pedagógicas.” São Paulo, Brasília e Manaus fizeram parte do roteiro cultural. O grupo permaneceu por cinco dias na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a maior reserva florestal do Brasil dedicada exclusivamente à proteção da várzea amazônica, localizada no estado do Amazonas, na região do médio Solimões. O programa compreendia atividades diversas como palestras – WWF Brasil, por exemplo –, workshops, visitas a museus, laboratórios, exposições e centros científicos. MASP, Museu da Língua Portuguesa, Butantã, reservas ecológicas, teatros, espaços urbanos e monumentos integraram a agenda.

(*)Fotos de Christiane Gioppo - Professora da Universidade Federal do Paraná

FÊNIX


Note que a imagem de fogo, como sombra da ave, representa o Brasil.

Joel Pires*

Renascer das cinzas. Essa é a lição que a história de Fênix, um pássaro da mitologia, presente em várias culturas, nos ensina. De acordo com a narrativa, a ave fantástica entrava em combustão e renascia de seus escombros. Penas douradas e avermelhadas cobriam-lhe as asas. Trata-se de um arquétipo. O fogo purifica, renova simbolicamente. O mito tem conexão com a psique; representa a capacidade de (re) elaboração da realidade, sob a perspectiva de processos inconscientes. Seu conteúdo é forte e surpreendente; não se trata apenas de uma simples fábula. O grande pássaro mitológico vivia mais de mil anos. É símbolo de resistência, de perseverança.

A esperança é seu legado para nós. No início da era cristã, diz a Wikipédia, Fênix representava a ressurreição. Um trecho do texto reza o seguinte: “Quando lhe resta apenas um sopro de vida, bate suas asas e agita suas plumas, e deste movimento produz-se um fogo que transforma seu estado. Este fogo espalha-se rapidamente para as folhagens e madeira, que ardem agradavelmente.” Passamos por momentos de turbulências, verdadeiras provações. A Terra apresenta suas fissuras. Terremotos, maremotos, desastres. Massacres. O fogo consome. As cinzas se acumulam. Mas a humanidade tem a imensa capacidade de se reinventar. Outras crianças virão e herdarão a responsabilidade de reconstruir o mundo. Isso se abortarmos a corrida alucinada rumo à própria destruição.

Neste momento em que carecemos de explicações, quando as respostas não chegam, o mito talvez nos ajude a compreender a realidade por outro viés. O sagrado alivia a dor. A psicanálise é mais atual do que nunca, e resiste apesar de correntes contrárias. Para Domenico de Masi, a eternidade é uma compensação para a morte; assim como a beleza é uma compensação para a dor. A imagem de Fênix é bela e carregada de simbolismos, entre os quais o renascimento espiritual.